sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Isso aí, ou algo além

Olhe pelo lado bom...

Há ainda essa coisa a frente,
esse verde tórrido
em contraste ao preto insistente
há ainda
esses "sís" e dós" menores
nos lufos de vento...
essa melodia surda
impregnada a imanência
desses falsos entes
compondo esse sol se pondo,
conduzindo essas copas de árvores
sujas,
e por isso mesmo,
perfeitas
à compostura da imagem,
guardando o sangue
no asfalto,
para o exercício
duma harmonia em crescendo...

Não se incomode,
essas porras hão de ter melodia,
hão de ser vivas elas por elas mesmas...

Nada impedirá a paisagem...

Nem sendo de esquerda,
vermelho,
inexperiente e impaciente
ou complacente ao azul,
com rabos entre as pernas
e a calmaria,
erguida a sombra
duma psicose
escolhida a dedo

Os brados e o pisar
nessas calçadas,
não apagarão a relação
estrita
entre o céu
e os galhos,

Não há de temer
os ramos apontarem
sempre ao inalcançável,
não é contigo que falam mesmo...

Mas escute ainda assim,
esse mosaico
responde mais que horóscopo,
mais que pesquisa mercadológica...

e ele,
pode apontar pra onde quiser,
seja pra lá,
pra cá,
prali, praqui,
pro sudoeste
tendo um caso
com dona Rosa dos Ventos,
ou pro raio que o parta
Não importa oque aponte
ao oque...
a pergunta não é,
nunca,
mais importante que a resposta...
e que resposta dura!

Vai encontrar no teu rosto,
boca que não canta
olho que não dança
nariz
que nem sabe o que faz ai,
pele pra enfeite
e ouvidos em desuso...


Somos isso que observa as nuvens,
ou a merda que o seja...

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Sem Nome #5


Todas as ruas,

Avenidas,

Trilhos e afins,

são vias de mão única

de volta,

apenas,

sempre apenas,

ao centro

...

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Dum vício antigo

Não,
eu não te agradeço,

solenemente

pela força retrógrada
aplicada ás vicissitudes
pétreas de uma vida em desespero,

não te agradeço

nem pela tua carne

nem pela tua baba

esnobo-te

pelos momentos calmos,

que morri tórrido em suor,

nu sobre tuas juntas,

no vapor doce e seco da concretização
volátil e tardia de nosso amor,

e logo em seguida

ressutar-me,
a pingar fogo!

...

do teu ventre ao mundo

e

do mundo

a esses teus olhos...
essa porra que empresta vida,
brada recorrente
uma inocência recatada
de um amor possível
ao alcance
dum olhar...

não,
não quero agradecer-te,
nada do que fez a mim

se aprendi algo,
podre

(e você sabe,
muito além de mim,
você sabe que
podre,
roto
é a essência,
pária,
do que não se quer ver)

se aprendi algo concreto contigo
foi a pérfida desrazão de um obrigado,
sempre reto,
desnecessário...

foi no abandono
de meus queridos
e etéreos
ésses
vês
éles
que os suprimi
pelo rosnar
rouco
dos teus érres
brutos,
rústicos,
truculentos,
esses que absorvi de tua fala...

tenho que parar de agradecer assim,
a esses cheiros,
sons e cheiros,
que retumbam
duros na superfície
oca
do sentido...

a tua lapidação
refez o homem
que quis,
no homem que quer

por isso,
e unicamente por isso,
eu não te agradeço,
nem hoje,
nem se o luar virar sorriso,
nem sendo o último suspiro,

como quis,
como quer,
como agora sou...

assim, do jeito que moldas-te

(e por isso mesmo,
obrigado...)

...

domingo, 12 de agosto de 2012