quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Liberterra (em falta de um nome melhor)

É para lá que eu vou.

Por que?

Simples: Não há Édipo nem Gabriel. A Uma é plena sem alá, deus ou adonai elohim. Todos bebem do vinho de Epicuro fazendo dos "bons" Bodisatvas desnecessários. Liberterra é onde as lágrimas embriagadas de Jack Kerouac foram parar e hoje festejam dentro de uma lótus nascida do cimento sem seu devido consentimento. Camus não achou o absurdo por lá (deve estar se escondendo muito bem o danado). Brás Cubás anda de mãos dadas com um gato japonês por aquelas terras. Nesse outro horizonte os ponteiros do tempo são amigos, não há desencontros na hora da feijoada Sr. Flávio Moreira da Costa, o senhor pode aparecer quando tiver vontade (e TRAGA Cláudio Crassio). Todos são homens-do-canto, mas as quinas são próximas (o que ajuda bastante na hora de achar a mão de outros todos para apertar). O mais notável é o fato de lágrimas de amor não escorrem por ralos. Elas grudam em tua pele até sarar-te dessa doença abominável que é a obsessão e de um repente sublimam.

É por lá que eu quero andar. Poças sujas no asfalto, rosas de pedra e prédios de terra. E o concreto.

- Ah! O concreto!

Da para sentir o concreto acontecendo em você. Dele nascem todas as flores, basta que seus pés encontrem as rachaduras jogadas nas calçadas de asfalto. Sim, você faz a polinização. Dependendo do teu pé nasce uma flor diferente. Se for um pé festeiro nascerá margaridas , se for ninfomaníaco nascerá rosas e tulipas umas enfiadas nas outras, se for burro nascerá um girassol (desses bem idiotas). Um estranho fato é que apenas com o meu passo nasce um ramo de coração-sangrento. Perguntei a todos os embriagados de vinho o porque de ser apenas comigo. Me disseram que eu não estaria pronto para Liberterra. Deveria voltar depois, quando eu estiver preparado.

O desespero foi irremediável. Escrevi, iscrevi, iscrivi, inscrivi... 1000 poemas de saudade.

1000 é mentira, 1000 é sempre demais. Sempre desconfio de quem usa esse número.

Falando a verdade, escrevi apenas 7 poemas, mas 7 poemas de paixão. Nem foram sobre aquelas terras, e sim sobre meu amor irreconciliável com o mundo, os mares, teus cabelos pintados, café com cigarros. Cada palavra escrita fazia esse músculo estranho e pouco obediente dentro do meu peito sangrar um pouco mais.

Sangria do coração.

Sangrei tanto esse músculo que secou.

É, secou.

Encontrei-me em meu quarto flutuando na piscina de meu próprio sangue. Nada pude fazer senão banhar-me desse licor doce. Calma, estava sem doenças (mas meu teste de HIV ainda não saiu). Banhei-me em mim mesmo por um tempo que nem Buda aguentaria meditando. De repente o anjo Gabriel aparece e puxa meu corpo dele mesmo e daí já não sei mais nada. Só sei que o eu que estava ali nas asas do arcanjo era de matéria, assim como o que ficara lá morgando no sangue.

Será que foi Mitose?

O anjo me levou aos céus. Passei por Deus, Zeus, Brahma, Exu, Todos Os Kamis e cheguei a Krishna. Gabriel me jogou ali mesmo e foi até o sol explodir. (Exibido).

Krishna estava montada em seu cavalo branco de Napoleão tocando sua flauta obesa e decidi mostrar meus dotes musicais para a deusa. Já estava ali, ao menos tentaria me divertir. Toquei flauta com a menina e caldeei-me a pura melodia de um Heavy Metal Gospel Hindu. De um repente a flauta quebrou e cai o caminho inteiro até meu corpo. O sangue voltara a minhas veias rotas onde trabalhará como escravo proletário para todo o sempre.

Senti-me novo, igual a antes, mas novo. Na verdade não me sentia novo, apenas me sentia bem comigo mesmo. Bem com esse fardo que devo carregar para a vida toda que é meu corpo.

Olhei-me e amei-me.

Lembrei de Liberterra.

Meu amor-próprio recém nascido sussurrou em meu ouvido: está na hora!.

Com o peito semi-estufado (semi, pois você sabe: cigarro é foda) marchei até os asfaltos quebrados de liberterra (com minúscula agora).

Quando cheguei a 1 metro de distância, ouvi sirenes, gritos de alegria, gemidos sexuais de meninas experimentando o primeiro orgasmo e vi balões, serpentina, fantasias e uma placa delicada escrita em vermelho no preto: Bem-vindo de volta meu amor!

E andei esse um metro. Foi o metro mais memorável de toda a minha vida. Quando ele findou, pisei numa rachadura no concreto. Nasceu outro ramo de coração-sangrento e meu sorriso veio de mãos dadas a uma lágrima. Chorei lágrimas de luz e fiquei cego. Cego, porém ainda conseguia ouvir o canto dos homens-do-canto em cânone (primeiro, sempre primeiro, as crianças e depois os adultos):

"Estamos Roucos!!!!
Roucos, Aham! Meu amor!
Estamos Roucos de Saudade de você!"


Fui abraçado e aceitei-me naquele lugar definitivamente.

liberterra não virou minha morada e sim meu refúgio. Refúgio dos outros. Decidi não morar por lá senão perde a graça. Minhas visitas, porém, são constantes. Sempre sou agraciado pelo canto dos homens-do-canto.

Queria poder dizer o endereço, mas isso é algo que deves descobrir sozinho.

Mas não se preocupe meu amor, se estiver próximo sussurrarei (eu estando ou não lá) suave e brandamente assim:

"Estou Rouco!!!!!
Rouco, Aham! Meu Amor!
Estou Rouco de Saudades de você!!!!"

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Muito obrigado a André Breton, Apanhadores sós (mas tamo juntoemisturado), e você Flavinho.

Desculpe, Sr. Flávio Moreira da Costa.

Palmas aos três que me deixaram escrever isso sobre mim que ninguém vai querer nem saber.

Clap, Clap, Clap.

Vinícius (de Souza) Leite Pereira
11/8/2011


2 comentários:

  1. Jaá destilei meus elogios ao vivo, esse comentário é só para reforçar: essa tua prosa era um poema, só que nem você nem o papel sabiam disso na hora.

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  2. O surrealismo é só emoção. É bom que seja assim, de vez em quando. Eu não sei o que senti, mas senti, e foi bom. Bom texto,

    Obrigado

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